Na sociedade consumista, a palavra NOVO tem um grande poder. Tudo o que ela acompanha passa a ser objeto de desejo, pois o NOVO representa - mesmo que apenas simbolicamente - algo diferente, coisa que talvez não se tenha experimentado ainda. Mesmo o que é antigo pode ser encarado como NOVO, basta que um pequeno detalhe seja modificado, para acompanhar a moda, ou como se diz, a tendência, pois, muitas vezes, o NOVO nada mais é que sinônimo de mais do mesmo. Mas não importa: possuir o NOVO, em tempos modernos, significa estar antenado, ser um homem de sucesso e não estar excluído da sociedade, mesmo que esta seja uma pseudo-inclusão.
O NOVO é estratégia para a comercialização dos produtos que, cada vez mais, têm seu ciclo de vida encurtado, pois é preciso renovar continuadamente para que se possa acompanhar as mudanças do mercado. Uma das grandes paixões dos brasileiros, o automóvel, é um exemplo que serve para ilustrar o uso exagerado do conceito de NOVO. Nem havíamos chegado ao meio de 2008 e já era possível encontrar na mídia a publicidade dos novos modelos 2009 - mesmo que esse NOVO se concretizasse, de fato, apenas num friso diferente do pára-choques.
E quanto mais modelos novos surgem, mais rápido passa a ser o descarte do que se tem, pois a partir do momento em que se toma ciência do lançamento de um novo modelo de determinado produto que está no mercado, a impressão que se tem é que seu antecessor passa a não mais cumprir seu papel. E pode acontecer mesmo de não cumprir, mais do ponto de vista psicológico do que funcional.
O problema é que não se nota a mesma ânsia empregada no relacionamento com os objetos, essa vontade de se relacionar com o NOVO, quando em relação ao próprio indivíduo, seus pensamentos e atitudes. Neste quesito, gostamos mesmo é do velho ser que habita em nós. E não são raras as vezes em que se ouve: “Sou assim mesmo, não vou mudar”, postura, no mínimo, lamentável. Por que não transportar a vontade de gozar do NOVO modelo de produto para a possibilidade de desfrutar de um novo modelo de indivíduo? E neste caso, o NOVO precisa ir além da embalagem, do puxa aqui, aspira ali, ou dos tão desejosos MLs que se pode acrescentar – para o “bem” da aparência. O upgrade pessoal também precisa ultrapassar as matérias do intelecto - quando chegam até elas - com pós disso e daquilo, línguas, cursos de extensão, aperfeiçoamento e tal - pois o NOVO, aquele que se refere à reinvenção do próprio indivíduo, é carente de novas atitudes, formas outras de se relacionar consigo e, consequentemente, com os outros.
Então, neste final de ano - época que talvez seja mais propícia para as reflexões -, nada de trocar apenas aquele “friso lateral”. O fundamental, nesse processo de transformação, começa com a vontade de conquistar um NOVO modelo de pessoa, mais fraterno, amigo, capaz de se amar e de amar as outras pessoas com quem convive, respeitando-as e respeitando-se e, acima de tudo, deixando a paz fazer parte de suas ações.
E sobre o NOVO no consumo, o que fazer, a saída seria não comprar mais nada? Não, essa não-necessidade talvez seja utopia, pelo menos no sistema vigente. Mas é possível adotar práticas de consumo mais conscientes: aproveitar alimentos, consertar roupas e sapatos, comprar menos brinquedos para filhos, netos e afilhados e, quando o fizer, propor, por, exemplo, que a criança doe um para ganhar outro. No supermercado, vale se perguntar se aquilo que está vendo e que despertou um desejo momentâneo é realmente necessário naquele momento. Enfim, é possível renovar a forma de enxergar o mundo e, mais do que isso, sua atuação nele.
Adotar uma NOVA postura, uma NOVA forma de se relacionar é mais difícil do que consumir parcelando no cartão. É preciso atitude, força de vontade, disciplina para poder deixar aflorar um sujeito que saiba respeitar e amar mais a si, os outros e os lugares por onde passar.
E então, disposto a conquistar esse NOVO sujeito?
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
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