terça-feira, 19 de abril de 2011

A cidade e as crianças

Há pelo menos 10 anos, eram as pessoas com algum tipo de deficiência que mais sofriam. As condições nos espaços públicos para mobilidade eram terríveis. Não digo que a situação tenha se resolvido por completo, mas tivemos avanços. Em muitas cidades, as guias foram rebaixadas, facilitando a mobilidade do cadeirante. As calçadas foram preparadas para a locomoção do deficiente visual. Hoje, há vagas de estacionamento reservadas em locais públicos e privados para deficientes físicos e auditivos. Banheiros e transporte público adaptados para cadeirante, telefone público para deficientes auditivo e visual e por aí vai.

As pessoas da chamada terceira idade, os velhos no sentido dado pelo querido Rubem Alves, também passaram a ser mais respeitadas e com direito há uma diversidade de coisas, que no passado próximo não tinham.

Essas transformações mostram que a sociedade está caminhando cada vez mais no sentido de inclusão das pessoas. Porém, apesar dos avanços, é incrível como falta estrutura para as crianças nas cidades.

Fraldário
É muito difícil encontrar fraldário em locais públicos e privados. Quando digo fraldário, não me refiro a pranchas que a gente vê por aí em banheiros femininos (claro, pai não sai com criança, pra quer pensar nele?). Falo de espaço adequado para que a criança possa ter sua fralda trocada e ser alimentada, tanto pela mãe quanto pelo pai ou outro acompanhante. É um grande desrespeito essa falta de estrutura. Aliás, acho que deveria ser lei e ter norma técnica da ABNT para a concepção destes espaços.

Os melhores fraldários que já conheci ficam em shopping centers. E posso citar dois que são de extrema qualidade: um deles fica no Shopping Paulista, em São Paulo, e outro no Shopping ABC, em Santo André. Se é puramente interesse comercial, não importa, o que vale de fato é o conforto e o respeito que esses estabelecimentos têm pelas pessoas que frequentam seus espaços.

Por outro lado, você já foi ao zoológico de são Paulo com uma criança? Eu já. A começar que o zoológico é imenso e tem apenas dois fraldários, lógico que integrado ao banheiro das mulheres (pai não passeia com seus filhos, lembre-se disso). Fora isso, o espaço é horrível, cheira a mofo, uma estrutura totalmente inadequada, num lugar onde se vê um número grande de crianças. Será que o poder público não vê isso?

A mesma falta de respeito é notada em muitos postos de gasolina nas estradas brasileiras, que têm infraestrutura zero tanto para crianças como para adultos.

Cadeirão
E nos restaurantes, se você tem filho, já deve ter pedido o tal cadeirão para acomodar o pequeno de forma que ele se integre a todos durante a refeição. Em grande parte desses estabelecimentos, o cadeirão representa um grande perigo: primeiro porque a criança fica solta, pois não há um cinto que a prenda naquela cadeira, podendo cair a qualquer momento; segundo que o equipamento foi desenvolvido sem levar em consideração que as crianças se mexem enquanto comem. Qualquer movimento que a criança faça, pode virar o cadeirão e causar um grave acidente.

Parques, cantos, perigos, etc
Isso sem falar nas condições de muitos espaços públicos e privados, que representam perigo para as crianças. Num parque perto da minha casa, por exemplo, o prefeito resolveu construir um lindo deck de madeira no lago. O para peito protege muito bem, os adultos, pois foi feito de maneira que as crianças têm espaço livre para caírem na água. Com certeza a construção não foi pensada nas crianças.

Aliás, faltam parques e espaços públicos para as crianças. Os que têm por aí se restringem à área verde com parquinho e, muitas vezes, sem a mínima segurança pra elas. O poder público deveria se espelhar em equipamentos como os SESCs, que têm infraestrutura e programação de qualidade desenvolvidas especialmente às crianças.