Em tempos de hipermodernidade, como diz Gilles Lipovetsky em “Tempos Hipermodernos” (2004), compartilhar talvez seja uma dádiva. Os costumes da contemporaneidade acabam deixando os indivíduos cada vez mais egoístas, mais individuais, mais competitivos, porém não menos frágeis.
A sede de posse é grande. Quanto mais acúmulo de bens, mais bem visto é o homem, que trabalha, estuda, corre pra cá e pra lá “precisando” ganhar cada vez mais para suprir suas necessidades, sejam elas físicas e ou psicológicas. É a casa de campo, de praia, moto, lancha, carros ... É a comodidade, o lazer (com ou sem ócio, esse último ainda mais provável), o desfrutar das delícias desse mundo de carne e osso. Ótimo, quase perfeito, se desse tempo para usufruir de tudo isso. Bom, pelo menos a sensação de ter (do isso tudo é meu) ainda pode ser uma grande satisfação. Mas e o custo-benefício, se deixarmos de lado os aspectos psicológicos do ser? Com as aquisições, as contas vão aumentando e, com elas, o seu compromisso de trabalhar mais para poder quitá-las. (Adeus tão sonhado ócio). E o custo de todos esses bens parados, sem uso? Será inteligente do ponto de vista financeiro, ambiental e social?
Muito se diz do tal desapego que devemos ter dos bens materiais. Coisa difícil, né (pelo menos pra mim). A sociedade contemporânea até quem tem mostrado seu lado inteligente e de certa forma socializador, mesmo que seja pensando mais em economia financeira do que no compartilhar de fato. Em seu livro “A Era do Acesso” (2000), Jeremy Rifkin, fala de uma sociedade que não precisa ser dona de nada, mas que pode ter acesso a tudo. “O acesso just-in-time de bens e serviços é a tendência do futuro. Cada vez mais pagaremos para utilizar coisas em vez de sermos os proprietários”, afirma o autor. Nesta lógica, não deixaríamos de utilizar a casa de campo, a de praia... Digamos que poderíamos chamar isso de um socialismo capitalista, no qual muitos objetos podem ter mais de um dono, ao mesmo tempo em que ninguém é dono de nada. Paga-se pelo uso. Assim, divide-se bônus e ônus.
Já tem muita gente praticando o compartilhamento dos objetos. Nos países desenvolvidos já acontece em maior escala. No Brasil também existe e a tendência é crescer. São escritórios com estrutura enxuta em que diversas pessoas jurídicas utilizam a mesma sala de reunião, equipamentos, secretária etc. Na Califórnia - EUA - há carros compartilhados. O indivíduo paga uma taxa por mês. Os carros ficam disponibilizados em vários lugares. A pessoa pode pegar em um ponto e deixá-lo em outro local.
E a era do acesso também está nos céus. A novidade, pelo menos pra mim, foi a de ver no jornal Diário do Grande ABC, de 18 de agosto, matéria falando sobre helicópteros compartilhados. É claro que mesmo dividindo em grupo (cerca de 10 pessoas) custa muito para a maioria dos mortais, mas é a idéia em si que é boa e precisa ser ampliada e divulgada. Além de ter um preço altíssimo, os mais baratos por volta de R$ 1 milhão, ter uma máquina dessas parada, mesmo pra quem pode, significa prejuízo. Então, porque não compartilhar?
Segundo a reportagem, o Brasil tem 200 pessoas que utilizam esse sistema, que já existe há sete anos. Paga-se 10% do valor da aeronave como cota e R$ 11 mil mensais para manutenção do aparelho e custos de vôo, como combustível, piloto, entre outros. Espero que essa filosofia, a da era do acesso, continue a se multiplicar. É bom para os indivíduos, é bom para o planeta também, mas claro, ainda longe dos ideais de ambientalistas e socialistas. Mas no tempo em que vivemos, essas notícias são animadoras, pois mostram que há alternativas à forma atual de nos relacionarmos com os objetos, criando, pelo menos, uma cultura de consumo mais consciente.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
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