O segundo Fórum Internacional Criança e Consumo, realizado
pelo Instituto Alana, entre 23 e 25 de setembro, em São Paulo, foi fundamental para o avanço das discussões em torno do consumismo que já faz parte da vida das crianças.
As palestras e debates foram além da idéia simplista de que a propaganda é a grande vilã que insere os pequenos desde muito cedo na cultura consumista. O tema foi tratado de diversos ângulos e sob uma abordagem multidisciplinar, como de fato deve ser feito quando se quer realmente trabalhar para transformar o comportamento da sociedade contemporânea.
É claro que há muita publicidade abusiva e que ela está relacionada com a moda do descarte que temos hoje, “da ânsia pelo novo”, como diz o filósofo Gilles Lipovetsky. A publicidade é a fratura exposta dentre os fatores que compõem a problemática do consumismo, é a que põe a cara a tapa, poderíamos dizer. Ela precisa ser tratada, pois da forma como se apresenta hoje não contribui para a formação de indivíduos mais humanistas, críticos e realizados, ao contrário, faz com que as pessoas não caminhem para encontrar a tão sonhada felicidade, mas que vivam numa eterna busca por ela, na qual o prazer não está nem mais no desfrute dos objetos, mas no simples gozo do ato da compra.
E o Fórum levou em conta esses fatores. A questão levantada pelo prof. Mario Sergio Cortella de “que filhos deixaremos para o mundo?” pode ser a questão mais importante. Ficou claro que devemos trabalhar a educação tanto das crianças como a dos pais, dos professores, empresários e profissionais de comunicação. É preciso que ações sejam postas em prática para que se possa transmitir valores outros para a sociedade, que também não tem culpa, de certo modo, de suas atitudes. Atualmente, dentro do sistema e dos valores vigentes, para ser bem sucedido, para ser bacana e fazer parte da turma, é preciso mostrar seus troféus. Como bem lembrou o psicólogo Yves de La Taille, há uma inversão de valores. A propaganda daquele lindo carro de luxo que diz que “quem tem fez por merecer”, deixa bem claro isso. O que seria de fato esse merecer?
É preciso também que as atitudes não estejam apenas no campo das punições, das ações judiciais. Elas têm sua importância e necessidade, mas é necessário que as pessoas sejam conscientizadas, que o poder público e as organizações não governamentais possam ter ações que mostrem que uma outra realidade é possível de ser construída.
Na mesma semana em que se discutia no Fórum alternativas para o consumismo do público infantil, o suplemento “sua empresa”, de 24 de setembro, do Jornal Estado de São Paulo, incentivava empresários a voltar seus negócios – produtos e serviços – às crianças, pois elas representam um mercado promissor. A capa estampava o título “Cofrinho Abonado”, seguido da seguinte chamada: “O mercado infantil movimenta R$ 50 bi e cresce 14% ao ano. É uma oportunidade para quem quer investir”.
Fica claro, a partir de iniciativas como essa, que o caminho a ser percorrido não é dos mais fáceis, afinal, há interesses e lobbys fortíssimos que contam com a alienação das pessoas e a falta de discernimento de crianças para estimular um consumo cada vez mais desenfreado.
Porém, o simples fato de participar do 2ª Fórum Internacional Criança e Consumo e perceber o interesse das pessoas em debater o tema, com auditório completamente lotado, já dá uma certa “sensação de tranqüilidade”. Como disse o professor José Eduardo Romão, é a agradável sensação de saber que não estamos sós.
Ainda refletindo sobre o Fórum, me lembrei do filme “Fernão Capelo Gaivota” e da célebre “Caverna de Platão”. O alívio que sinto é o de perceber que não sou o único a desejar voar mais alto para alcançar outros horizontes, de um mundo real que pode ser muito melhor do que o cenário que temos hoje.
Este texto também está publicado no site da Alana. Acesse
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
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