quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Será somente migração de quereres?

Fiquei muito feliz com a notícia “Propaganda de alimentos deverá ser voltada aos pais”, veiculada dia 17 de janeiro na Folha de São Paulo. Por isso não poderia deixar de comentá-la aqui.

A decisão das empresas Burger King Europa, Coca-Cola, Danone, Ferrero, Kellog´s, Kraft, General Mills, Mars, Nestlé, PepsiCo e Unilever, que assinaram o termo de compromisso europeu EU-Pledge, em 2007, e que passa a valer a partir deste ano, é para comemorar. Claro que o problema do consumismo infantil não se resume à publicidade na tevê e, consequentemente, não se resolve apenas com uma medida isolada. Sabe-se que o universo infantil de hoje é habitado por freqüentes inputs de consumo e que é a educação que deve ser tratada de maneira que dê suporte necessário para proporcionar aos futuros adultos uma postura mais crítica, consciente e humanizada das coisas terrenas. E o trabalho de educação também deve ser direcionado para gente grande. Se as crianças enxergam os adultos como modelos e estes continuam os mesmos, não há mudança, apenas repetição do cenário que se tem hoje.

De qualquer forma, a notícia é muito positiva porque colabora para que o tema seja debatido, gerando assim um sentimento de mais consciência para com nossas crianças. E grandes empresas tendo posturas como esta, faz com que outras passem a refletir sobre o tema, pois ir na contramão pode ser um começo de perda de lucros. E esse decréscimo pode aumentar na proporção do crescimento da conscientização da sociedade, que pode deixar de comprar produtos cuja comunicação não respeite os pequenos.

Lado B
Por outro lado, crianças de até seis anos estarão expostas a propagandas voltadas às crianças que tenham sete anos ou mais. O que pode acontecer – e nesse caso a ação passa a não ter validade - é uma migração, inclusive dos pedidos. Se as crianças já gostam de produtos destinados aos adultos, entre eles podemos citar o telefone celular, que dirá dos brinquedos destinados aos pequenos que são apenas um pouco maiores daqueles com seis anos. Por isso precisamos ficar atentos para que a ação das empresas não represente apenas uma migração dos quereres.

ANVISA
Esperamos que a ANVISA consiga lançar a regulamentação sobre a propaganda de alimentos. E espero que a iniciativa não fique restrita somente a propaganda, pois é preciso levar em consideração todas as ferramentas e estratégias da comunicação mercadológica, da qual a propaganda é apenas uma delas.

TV Cultura
Também quero registrar aqui a postura louvável da TV Cultura que, desde 1º de janeiro de 2009, se comprometeu a não veicular publicidade de produtos durante a programação infantil da emissora.