Essa postura fica evidente nas vitrines dos shoppings. Cada vez mais cresce o número de grifes que se utilizam da “consciência verde” para persuadir seu público. Até acredito que algumas empresas tenham uma real preocupação com o meio ambiente, mas deve ser minoria. A indústria, de forma geral, se utiliza dessa estratégia simplesmente para vender mais, para parecer politicamente correta. Assim, as ações são pensadas em termos de resultado, de exposição e de associação da marca. Pensar em sustentabilidade, em meio ambiente, em responsabilidade social e ambiental - temas que deveriam ser quesitos obrigatórios em quaisquer atividades hoje - significam valor agregado, ou seja, são usados como diferencial, o que por si só já é um absurdo. E essa atitude é muito natural, como se as empresas e indivíduos, ao adotarem um comportamento desses, estivessem fazendo um favor para o restante da população. Ora, já é tempo de pararmos com oportunismos. Precisamos acordar para o verdadeiro sentido da vida.
Nada contra as empresas se engajarem nesta onda. A dúvida que fica é se há uma preocupação real ou não com a causa. Por exemplo, por que os produtos ditos ecológicos são geralmente mais caros, ou seja, pesam mais no bolso do consumidor? Deveria haver algum mecanismo que os tornassem mais baratos. Talvez sejam mais caros por serem tão apreciados pela marca que carregam e a imagem que proporcionam. Outro ponto é a questão da moda retratada na pesquisa. Há ocasiões em que o indivíduo compra determinado produto eco para ser visto como um cara consciente. Faz parte da criação do “eu ideal para o outro”, uma das dimensões que as teorias do comportamento do consumidor chamam de “autoconceito” (Beatriz Santos Sâmara e Marco Aurélio Morsch). Assim, não importa se o seu comportamento no cotidiano não é nada ecológico. O que vale é “parecer ser”, até porque é bem mais fácil pra quem pode pagar usar aquela embalagem politicamente correta, mesmo que seja em um corpinho nefasto.
Também me pergunto se as pessoas que fornecem matéria-prima para as empresas ditas ecologicamente responsáveis ou que confeccionam seus produtos são tratadas por estas grifes com o mínimo de dignidade humana. Ou será que simplesmente são exploradas, muitas vezes de forma maquiada? Estarão trabalhando em condições inadequadas e até miseráveis para, sem ter ciência, aumentar a riqueza das grandes corporações que comercializam seus produtos para países que muitas delas nunca saberão nem sequer pronunciar os nomes? Será que essa preocupação não existe porque essas pessoas não ficam expostas nas vitrines dessas lojas e, por isso, tanto faz a responsabilidade que a empresa tem com elas? Ao que parece, não há uma grande preocupação, nem das empresas e nem dos consumidores, com a situação dos que confeccionam determinado produto. O importante, então, é a etiqueta 100% reciclada e os grandes investimentos em marketing, pois estes, sim, refletem nas vendas?
Espero que eu esteja enganado, que essa não seja a lógica. Porque, se assim for, qual o sentido desses produtos, além massagear o ego de quem compra e o bolso de quem vende? Que bem ao planeta proporcionam? Ou será que o homem já não faz mais parte dele e, por isso, deve ser ignorado? Como o importante é a embalagem e a cara do produto, talvez as grifes pudessem promover uma mudança no que expõem. Em vez dos produtos, que mostrem os processos de captação de matéria-prima, as etapas de produção, as condições de vida daqueles que produzem, seus empregados, se é que podemos chamá-los assim. É preciso que a moda eco não seja apenas a da vitrine, mas que possa integrar a vida das pessoas. De todas.
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