terça-feira, 29 de julho de 2008

A democracia do standing não esconde a falta de educação

Segundo editorial do jornal Diário do Grande ABC, de 29 de julho de 2008, 20 milhões de brasileiros migraram das classes E e D para a C. Eles são responsáveis por 75% de todo o consumo do país. “Em bairros periféricos e até mesmo em favelas da região é possível encontrar residências estruturadas, recheadas de bens de consumo e serviços da vida moderna, como computador, internet e TV por assinatura”, afirma o texto.

De fato, a população começa a ter acesso a bens de consumo, antes privilégio das elites. E isso não acontece somente nas classes baixas. A classe média também escalou a Pirâmide de Maslow e, agraciada com as linhas de crédito, pôde financiar aquele carrão do sonho em até 80 vezes, ainda que, no final do financiamento, tenha chegado à conclusão de que pagou o equivalente a dois ou até três carros. Na verdade, muita gente pouco se importa com as taxas de juros no momento da compra. O desejo de posse do tão sonhado objeto é maior do que a preocupação financeira.

Não vejo nada de mal em adquirir aquilo que se quer, até porque o brasileiro é um povo que trabalha muito, paga imposto pacas e tem praticamente quase nenhum retorno do poder público. O problema é que essa ascensão de classes é ilusória. É o parecer, mais do que o ser. É a democracia do standing, segundo o filósofo Jean Baudrillard. Para ele, “o princípio democrático acha-se então transferido de uma igualdade real, das capacidades, responsabilidades e possibilidades sociais, da felicidade (no sentido pleno da palavra) para a igualdade diante do objeto e outros signos evidentes do êxito social e da felicidade. É a democracia do standing, a democracia da TV, do automóvel e da instalação estereofônica, democracia aparentemente concreta, mas também inteiramente formal, correspondendo para lá das contradições e desigualdades sociais à democracia formal inscrita na constituição”. Isso significa que o mundo dos objetos, das facilidades, encobre um mundo real de responsabilidades e direitos.

Hoje de manhã, enquanto estava de carro parado num semáforo, aguardando o sinal verde, fui testemunha de uma cena que me fez refletir sobre tudo isso. Dois rapazes muito bem vestidos, com pinta de executivos, em um carro bacana, pegaram um panfleto - daqueles que são distribuídos em tudo quanto é semáforo - e, na maior cara-de-pau, jogaram o papel na rua, pela janela. Na hora, fiquei indignado com a atitude dos dois e me perguntei: como pode? Além do desrespeito com a pessoa que estava entregando o material - pois ninguém é obrigado a aceitar - jogar o papel em via pública é, no mínimo, falta de educação. Naquele momento, a máscara por trás da qual estavam escondidos - carro moderno, gel no cabelo e roupa fina – caiu imediatamente.

Cheguei à conclusão de que a democracia dos objetos – embora festejada por muitos - não dá conta de inserir determinadas pessoas num patamar superior quando o que está em jogo são coisas simples, como o respeito, a gentileza e a educação, que andam meio esquecidas nos tempos modernos. E antes que alguém me acuse de ser preconceituoso, deixo bem claro o seguinte: tudo o que não quero dizer é que pobre é que não tem educação. Pelo contrário, o que noto é que, na maioria dos casos, à proporção que cresce a riqueza material do indivíduo, aumenta seu grau de egoísmo, diminuem as noções de civilidade e de compromisso como cidadão que, além de direitos, tem deveres. E esses deveres vão muito além de simplesmente pagar impostos ou as parcelas de financiamento do seu lindo automóvel.

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