É natural a busca por referências. É um meio de projetar o que se quer alcançar. Talvez uma maneira de tornar real algo ainda não realizado, que mora nos devaneios, uma forma de facilitar a idealização do que se pretende, embora muitas vezes, nos tornamos modelos sem saber muito bem de quem ou de que. E nos pegamos fazendo ou dizendo coisas que não defendemos e, pior, que abolimos. E quando essa percepção ocorre, por incrível que pareça, pode ser considerada uma evolução, pois há sujeitos que passam a vida inteira sem ter a consciência do que está praticando e, conseqüentemente, do que está deixando para outras gerações.
É importante pensarmos, como diz o filósofo e educador Mario Sérgio Cortella, “no que vamos deixar”. Somos modelo de quê? Estamos sendo observados o tempo todo. E quer queria quer não, somos modelos, principalmente para as crianças, que buscam nos adultos uma referência de como agir, de como lidar com as situações. Veja abaixo o vídeo da Child Friendly, ele trata desse assunto.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
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sexta-feira, 10 de outubro de 2008
O brilho que vira fardo
Em tempos de consumismo, de trocas insanas de objetos, da ânsia por novidades, Chico César fala na letra da música de sua autoria, que aliás leva o mesmo nome do CD - “De uns tempos pra cá” - sobre essas coisas mundanas que vamos juntando e que possuem certo encantamento até o momento de serem compradas, mas que depois acabam virando coisas pra tropeçar, se tornando fardo pra carregar, como bem diz a letra que pode ser conferida abaixo. O videoclipe também está disponível, logo após a letra da música.
De uns tempos pra cá
os móveis, a geladeira
o fogão, a enceradeira
a pia, o rodo, a pá
coisas que eu quis comprar
deu vontade de vender
e ficar só com você
isso de uns tempos pra cá
De uns tempos pra cá
o carro, a casa, o som
tv, vídeo, livros, bom...
o que em tese faz um lar
admito eu quis comprar
começo a me arrepender
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá
Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar
De uns tempos pra cá
o pufe, a escrivaninha
sabe a mesa da cozinha?
lençóis, louça e o sofá
não precisa se alterar
pensei em me desfazer
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá
De uns tempos pra cá
telefone, bicicleta
minhas saídas mais secretas
tô pensando em deixar
dê no que tiver que dar
seu amor me basta ter
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá
Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar
De uns tempos pra cá
os móveis, a geladeira
o fogão, a enceradeira
a pia, o rodo, a pá
coisas que eu quis comprar
deu vontade de vender
e ficar só com você
isso de uns tempos pra cá
De uns tempos pra cá
o carro, a casa, o som
tv, vídeo, livros, bom...
o que em tese faz um lar
admito eu quis comprar
começo a me arrepender
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá
Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar
De uns tempos pra cá
o pufe, a escrivaninha
sabe a mesa da cozinha?
lençóis, louça e o sofá
não precisa se alterar
pensei em me desfazer
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá
De uns tempos pra cá
telefone, bicicleta
minhas saídas mais secretas
tô pensando em deixar
dê no que tiver que dar
seu amor me basta ter
pra ficar só com você
isso de uns tempos pra cá
Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar
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quinta-feira, 9 de outubro de 2008
A moda eco das vitrines
O Mundo do Marketing publicou recentemente matéria que tratava da opinião dos consumidores da América Latina sobre o posicionamento “verde” das empresas. O estudo feito pela TNS InterScience revelou, entre outras coisas, que 25% dos entrevistados na pesquisa consideram o conceito verde “cool” e estão propensos a pagar mais caro por marcas que demonstram preocupações ambientais.
Essa postura fica evidente nas vitrines dos shoppings. Cada vez mais cresce o número de grifes que se utilizam da “consciência verde” para persuadir seu público. Até acredito que algumas empresas tenham uma real preocupação com o meio ambiente, mas deve ser minoria. A indústria, de forma geral, se utiliza dessa estratégia simplesmente para vender mais, para parecer politicamente correta. Assim, as ações são pensadas em termos de resultado, de exposição e de associação da marca. Pensar em sustentabilidade, em meio ambiente, em responsabilidade social e ambiental - temas que deveriam ser quesitos obrigatórios em quaisquer atividades hoje - significam valor agregado, ou seja, são usados como diferencial, o que por si só já é um absurdo. E essa atitude é muito natural, como se as empresas e indivíduos, ao adotarem um comportamento desses, estivessem fazendo um favor para o restante da população. Ora, já é tempo de pararmos com oportunismos. Precisamos acordar para o verdadeiro sentido da vida.
Nada contra as empresas se engajarem nesta onda. A dúvida que fica é se há uma preocupação real ou não com a causa. Por exemplo, por que os produtos ditos ecológicos são geralmente mais caros, ou seja, pesam mais no bolso do consumidor? Deveria haver algum mecanismo que os tornassem mais baratos. Talvez sejam mais caros por serem tão apreciados pela marca que carregam e a imagem que proporcionam. Outro ponto é a questão da moda retratada na pesquisa. Há ocasiões em que o indivíduo compra determinado produto eco para ser visto como um cara consciente. Faz parte da criação do “eu ideal para o outro”, uma das dimensões que as teorias do comportamento do consumidor chamam de “autoconceito” (Beatriz Santos Sâmara e Marco Aurélio Morsch). Assim, não importa se o seu comportamento no cotidiano não é nada ecológico. O que vale é “parecer ser”, até porque é bem mais fácil pra quem pode pagar usar aquela embalagem politicamente correta, mesmo que seja em um corpinho nefasto.
Também me pergunto se as pessoas que fornecem matéria-prima para as empresas ditas ecologicamente responsáveis ou que confeccionam seus produtos são tratadas por estas grifes com o mínimo de dignidade humana. Ou será que simplesmente são exploradas, muitas vezes de forma maquiada? Estarão trabalhando em condições inadequadas e até miseráveis para, sem ter ciência, aumentar a riqueza das grandes corporações que comercializam seus produtos para países que muitas delas nunca saberão nem sequer pronunciar os nomes? Será que essa preocupação não existe porque essas pessoas não ficam expostas nas vitrines dessas lojas e, por isso, tanto faz a responsabilidade que a empresa tem com elas? Ao que parece, não há uma grande preocupação, nem das empresas e nem dos consumidores, com a situação dos que confeccionam determinado produto. O importante, então, é a etiqueta 100% reciclada e os grandes investimentos em marketing, pois estes, sim, refletem nas vendas?
Espero que eu esteja enganado, que essa não seja a lógica. Porque, se assim for, qual o sentido desses produtos, além massagear o ego de quem compra e o bolso de quem vende? Que bem ao planeta proporcionam? Ou será que o homem já não faz mais parte dele e, por isso, deve ser ignorado? Como o importante é a embalagem e a cara do produto, talvez as grifes pudessem promover uma mudança no que expõem. Em vez dos produtos, que mostrem os processos de captação de matéria-prima, as etapas de produção, as condições de vida daqueles que produzem, seus empregados, se é que podemos chamá-los assim. É preciso que a moda eco não seja apenas a da vitrine, mas que possa integrar a vida das pessoas. De todas.
Essa postura fica evidente nas vitrines dos shoppings. Cada vez mais cresce o número de grifes que se utilizam da “consciência verde” para persuadir seu público. Até acredito que algumas empresas tenham uma real preocupação com o meio ambiente, mas deve ser minoria. A indústria, de forma geral, se utiliza dessa estratégia simplesmente para vender mais, para parecer politicamente correta. Assim, as ações são pensadas em termos de resultado, de exposição e de associação da marca. Pensar em sustentabilidade, em meio ambiente, em responsabilidade social e ambiental - temas que deveriam ser quesitos obrigatórios em quaisquer atividades hoje - significam valor agregado, ou seja, são usados como diferencial, o que por si só já é um absurdo. E essa atitude é muito natural, como se as empresas e indivíduos, ao adotarem um comportamento desses, estivessem fazendo um favor para o restante da população. Ora, já é tempo de pararmos com oportunismos. Precisamos acordar para o verdadeiro sentido da vida.
Nada contra as empresas se engajarem nesta onda. A dúvida que fica é se há uma preocupação real ou não com a causa. Por exemplo, por que os produtos ditos ecológicos são geralmente mais caros, ou seja, pesam mais no bolso do consumidor? Deveria haver algum mecanismo que os tornassem mais baratos. Talvez sejam mais caros por serem tão apreciados pela marca que carregam e a imagem que proporcionam. Outro ponto é a questão da moda retratada na pesquisa. Há ocasiões em que o indivíduo compra determinado produto eco para ser visto como um cara consciente. Faz parte da criação do “eu ideal para o outro”, uma das dimensões que as teorias do comportamento do consumidor chamam de “autoconceito” (Beatriz Santos Sâmara e Marco Aurélio Morsch). Assim, não importa se o seu comportamento no cotidiano não é nada ecológico. O que vale é “parecer ser”, até porque é bem mais fácil pra quem pode pagar usar aquela embalagem politicamente correta, mesmo que seja em um corpinho nefasto.
Também me pergunto se as pessoas que fornecem matéria-prima para as empresas ditas ecologicamente responsáveis ou que confeccionam seus produtos são tratadas por estas grifes com o mínimo de dignidade humana. Ou será que simplesmente são exploradas, muitas vezes de forma maquiada? Estarão trabalhando em condições inadequadas e até miseráveis para, sem ter ciência, aumentar a riqueza das grandes corporações que comercializam seus produtos para países que muitas delas nunca saberão nem sequer pronunciar os nomes? Será que essa preocupação não existe porque essas pessoas não ficam expostas nas vitrines dessas lojas e, por isso, tanto faz a responsabilidade que a empresa tem com elas? Ao que parece, não há uma grande preocupação, nem das empresas e nem dos consumidores, com a situação dos que confeccionam determinado produto. O importante, então, é a etiqueta 100% reciclada e os grandes investimentos em marketing, pois estes, sim, refletem nas vendas?
Espero que eu esteja enganado, que essa não seja a lógica. Porque, se assim for, qual o sentido desses produtos, além massagear o ego de quem compra e o bolso de quem vende? Que bem ao planeta proporcionam? Ou será que o homem já não faz mais parte dele e, por isso, deve ser ignorado? Como o importante é a embalagem e a cara do produto, talvez as grifes pudessem promover uma mudança no que expõem. Em vez dos produtos, que mostrem os processos de captação de matéria-prima, as etapas de produção, as condições de vida daqueles que produzem, seus empregados, se é que podemos chamá-los assim. É preciso que a moda eco não seja apenas a da vitrine, mas que possa integrar a vida das pessoas. De todas.
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sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Saudade consumida
Quando o filósofo Jean Baudrillard diz que vivemos o tempo dos objetos, ele fala da era do descarte, de um tempo, nas palavras do autor, “que vemos os objetos nascerem e morrerem”. E isso é fato, se antes os objetos duravam anos e anos, muitos passavam por gerações, hoje o “apego material” é menor, até porque a durabilidade dos bens também foi sendo reduzida, entre outras coisas, para funcionar como uma das justificativas dessa troca permanente.
E todos esses objetos consumidos de uns tempos pra cá foram caindo no esquecimento, assim que um outro modelo mais moderno entrava na moda. Porém, esse descarte não era puro e simplesmente do objeto em si. Junto a ele estavam muitos momentos vividos pelo indivíduo (bons, ruins, divertidos, frustrantes, enfim, momentos carregados de emoções, de valores, saudades e vontades). Talvez seja na tentativa de resgatar muito do que ficou pra trás é que a moda retrô hoje esteja em alta e o velho como sinônimo de antiquado, de coisa ultrapassada, esteja passando a ser visto e sentido por um outro ângulo, o da história, das experiências vivenciadas, como bem diz Rubem Alves (embora o autor trate de pessoas, não de objetos).
Como eu, você já deve ter recebido aqueles e-mails do tipo “matando a saudade”, que mostram brinquedos, seriados de tevê, doces, refrigerantes e tantas outras coisas que fizeram parte da infância e adolescência dos adultos de hoje. Outro dia recebi um que, entre tantas coisas, tinha um estojo de canetinhas coloridas. Aí me lembrei de quando usava daquelas para pintar meus desenhos. Gostei, pois me fez voltar ao passado.
Por outro lado, o tal e-mail também me fez pensar em outra coisa. Será que nossa história, ou o que nos faz lembrar dos bons momentos já vividos está sempre relacionado a objetos? Porque é somente isso que trazem esses e-mails, lembranças por meio de objetos. É engraçado e ao mesmo tempo triste. Será possível mudar essa realidade? Talvez e-mails que despertem as boas lembranças por meio de outros conteúdos que não sejam signos de consumismo. E os bons momentos que passamos na escola? Aquele café da tarde de domingo na casa da avó, com os primos, primas e tios? Dos bate-papos com a mãe? Das várias noites olhando o céu estrelado com amigos na tentativa sempre frustrada de ver um disco voador ou de lembrar do quanto era gostoso poder colher uma fruta no pé, na chácara do avô, e de chupá-la ali mesmo, na terra, sem a preocupação de sujar o chão? Dos doces da sogra, desde já eternizados? Enfim, de uma porção de momentos que ficaram e ficam, embora muitas vezes esquecidos nos HDs humanos sempre tão carregados dos afazeres do cotidiano.
E todos esses objetos consumidos de uns tempos pra cá foram caindo no esquecimento, assim que um outro modelo mais moderno entrava na moda. Porém, esse descarte não era puro e simplesmente do objeto em si. Junto a ele estavam muitos momentos vividos pelo indivíduo (bons, ruins, divertidos, frustrantes, enfim, momentos carregados de emoções, de valores, saudades e vontades). Talvez seja na tentativa de resgatar muito do que ficou pra trás é que a moda retrô hoje esteja em alta e o velho como sinônimo de antiquado, de coisa ultrapassada, esteja passando a ser visto e sentido por um outro ângulo, o da história, das experiências vivenciadas, como bem diz Rubem Alves (embora o autor trate de pessoas, não de objetos).
Como eu, você já deve ter recebido aqueles e-mails do tipo “matando a saudade”, que mostram brinquedos, seriados de tevê, doces, refrigerantes e tantas outras coisas que fizeram parte da infância e adolescência dos adultos de hoje. Outro dia recebi um que, entre tantas coisas, tinha um estojo de canetinhas coloridas. Aí me lembrei de quando usava daquelas para pintar meus desenhos. Gostei, pois me fez voltar ao passado.
Por outro lado, o tal e-mail também me fez pensar em outra coisa. Será que nossa história, ou o que nos faz lembrar dos bons momentos já vividos está sempre relacionado a objetos? Porque é somente isso que trazem esses e-mails, lembranças por meio de objetos. É engraçado e ao mesmo tempo triste. Será possível mudar essa realidade? Talvez e-mails que despertem as boas lembranças por meio de outros conteúdos que não sejam signos de consumismo. E os bons momentos que passamos na escola? Aquele café da tarde de domingo na casa da avó, com os primos, primas e tios? Dos bate-papos com a mãe? Das várias noites olhando o céu estrelado com amigos na tentativa sempre frustrada de ver um disco voador ou de lembrar do quanto era gostoso poder colher uma fruta no pé, na chácara do avô, e de chupá-la ali mesmo, na terra, sem a preocupação de sujar o chão? Dos doces da sogra, desde já eternizados? Enfim, de uma porção de momentos que ficaram e ficam, embora muitas vezes esquecidos nos HDs humanos sempre tão carregados dos afazeres do cotidiano.
Não que os objetos não tenham sua importância, mas a impressão que fica é que são eles os protagonistas. Tudo se resume no comprar, no ter. Estamos sempre intermediados por eles, os objetos. Até quando será assim? Precisamos tentar mudar um pouco isso, fazer com que as novas gerações tenham consciência de que o mundo não se resume num amontoado de chips e de especuladores financeiros. É preciso o resgate dos reais valores, da humanização das relações, de percebemos, como diz a jornalista Rita Trevisan, de que o mais importante são as pessoas.
crédito foto: revelando.blogspot.com
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quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Voando alto, e não só!
O segundo Fórum Internacional Criança e Consumo, realizado
pelo Instituto Alana, entre 23 e 25 de setembro, em São Paulo, foi fundamental para o avanço das discussões em torno do consumismo que já faz parte da vida das crianças.
As palestras e debates foram além da idéia simplista de que a propaganda é a grande vilã que insere os pequenos desde muito cedo na cultura consumista. O tema foi tratado de diversos ângulos e sob uma abordagem multidisciplinar, como de fato deve ser feito quando se quer realmente trabalhar para transformar o comportamento da sociedade contemporânea.
É claro que há muita publicidade abusiva e que ela está relacionada com a moda do descarte que temos hoje, “da ânsia pelo novo”, como diz o filósofo Gilles Lipovetsky. A publicidade é a fratura exposta dentre os fatores que compõem a problemática do consumismo, é a que põe a cara a tapa, poderíamos dizer. Ela precisa ser tratada, pois da forma como se apresenta hoje não contribui para a formação de indivíduos mais humanistas, críticos e realizados, ao contrário, faz com que as pessoas não caminhem para encontrar a tão sonhada felicidade, mas que vivam numa eterna busca por ela, na qual o prazer não está nem mais no desfrute dos objetos, mas no simples gozo do ato da compra.
E o Fórum levou em conta esses fatores. A questão levantada pelo prof. Mario Sergio Cortella de “que filhos deixaremos para o mundo?” pode ser a questão mais importante. Ficou claro que devemos trabalhar a educação tanto das crianças como a dos pais, dos professores, empresários e profissionais de comunicação. É preciso que ações sejam postas em prática para que se possa transmitir valores outros para a sociedade, que também não tem culpa, de certo modo, de suas atitudes. Atualmente, dentro do sistema e dos valores vigentes, para ser bem sucedido, para ser bacana e fazer parte da turma, é preciso mostrar seus troféus. Como bem lembrou o psicólogo Yves de La Taille, há uma inversão de valores. A propaganda daquele lindo carro de luxo que diz que “quem tem fez por merecer”, deixa bem claro isso. O que seria de fato esse merecer?
É preciso também que as atitudes não estejam apenas no campo das punições, das ações judiciais. Elas têm sua importância e necessidade, mas é necessário que as pessoas sejam conscientizadas, que o poder público e as organizações não governamentais possam ter ações que mostrem que uma outra realidade é possível de ser construída.
Na mesma semana em que se discutia no Fórum alternativas para o consumismo do público infantil, o suplemento “sua empresa”, de 24 de setembro, do Jornal Estado de São Paulo, incentivava empresários a voltar seus negócios – produtos e serviços – às crianças, pois elas representam um mercado promissor. A capa estampava o título “Cofrinho Abonado”, seguido da seguinte chamada: “O mercado infantil movimenta R$ 50 bi e cresce 14% ao ano. É uma oportunidade para quem quer investir”.
Fica claro, a partir de iniciativas como essa, que o caminho a ser percorrido não é dos mais fáceis, afinal, há interesses e lobbys fortíssimos que contam com a alienação das pessoas e a falta de discernimento de crianças para estimular um consumo cada vez mais desenfreado.
Porém, o simples fato de participar do 2ª Fórum Internacional Criança e Consumo e perceber o interesse das pessoas em debater o tema, com auditório completamente lotado, já dá uma certa “sensação de tranqüilidade”. Como disse o professor José Eduardo Romão, é a agradável sensação de saber que não estamos sós.
Ainda refletindo sobre o Fórum, me lembrei do filme “Fernão Capelo Gaivota” e da célebre “Caverna de Platão”. O alívio que sinto é o de perceber que não sou o único a desejar voar mais alto para alcançar outros horizontes, de um mundo real que pode ser muito melhor do que o cenário que temos hoje.
Este texto também está publicado no site da Alana. Acesse
pelo Instituto Alana, entre 23 e 25 de setembro, em São Paulo, foi fundamental para o avanço das discussões em torno do consumismo que já faz parte da vida das crianças.
As palestras e debates foram além da idéia simplista de que a propaganda é a grande vilã que insere os pequenos desde muito cedo na cultura consumista. O tema foi tratado de diversos ângulos e sob uma abordagem multidisciplinar, como de fato deve ser feito quando se quer realmente trabalhar para transformar o comportamento da sociedade contemporânea.
É claro que há muita publicidade abusiva e que ela está relacionada com a moda do descarte que temos hoje, “da ânsia pelo novo”, como diz o filósofo Gilles Lipovetsky. A publicidade é a fratura exposta dentre os fatores que compõem a problemática do consumismo, é a que põe a cara a tapa, poderíamos dizer. Ela precisa ser tratada, pois da forma como se apresenta hoje não contribui para a formação de indivíduos mais humanistas, críticos e realizados, ao contrário, faz com que as pessoas não caminhem para encontrar a tão sonhada felicidade, mas que vivam numa eterna busca por ela, na qual o prazer não está nem mais no desfrute dos objetos, mas no simples gozo do ato da compra.
E o Fórum levou em conta esses fatores. A questão levantada pelo prof. Mario Sergio Cortella de “que filhos deixaremos para o mundo?” pode ser a questão mais importante. Ficou claro que devemos trabalhar a educação tanto das crianças como a dos pais, dos professores, empresários e profissionais de comunicação. É preciso que ações sejam postas em prática para que se possa transmitir valores outros para a sociedade, que também não tem culpa, de certo modo, de suas atitudes. Atualmente, dentro do sistema e dos valores vigentes, para ser bem sucedido, para ser bacana e fazer parte da turma, é preciso mostrar seus troféus. Como bem lembrou o psicólogo Yves de La Taille, há uma inversão de valores. A propaganda daquele lindo carro de luxo que diz que “quem tem fez por merecer”, deixa bem claro isso. O que seria de fato esse merecer?
É preciso também que as atitudes não estejam apenas no campo das punições, das ações judiciais. Elas têm sua importância e necessidade, mas é necessário que as pessoas sejam conscientizadas, que o poder público e as organizações não governamentais possam ter ações que mostrem que uma outra realidade é possível de ser construída.
Na mesma semana em que se discutia no Fórum alternativas para o consumismo do público infantil, o suplemento “sua empresa”, de 24 de setembro, do Jornal Estado de São Paulo, incentivava empresários a voltar seus negócios – produtos e serviços – às crianças, pois elas representam um mercado promissor. A capa estampava o título “Cofrinho Abonado”, seguido da seguinte chamada: “O mercado infantil movimenta R$ 50 bi e cresce 14% ao ano. É uma oportunidade para quem quer investir”.
Fica claro, a partir de iniciativas como essa, que o caminho a ser percorrido não é dos mais fáceis, afinal, há interesses e lobbys fortíssimos que contam com a alienação das pessoas e a falta de discernimento de crianças para estimular um consumo cada vez mais desenfreado.
Porém, o simples fato de participar do 2ª Fórum Internacional Criança e Consumo e perceber o interesse das pessoas em debater o tema, com auditório completamente lotado, já dá uma certa “sensação de tranqüilidade”. Como disse o professor José Eduardo Romão, é a agradável sensação de saber que não estamos sós.
Ainda refletindo sobre o Fórum, me lembrei do filme “Fernão Capelo Gaivota” e da célebre “Caverna de Platão”. O alívio que sinto é o de perceber que não sou o único a desejar voar mais alto para alcançar outros horizontes, de um mundo real que pode ser muito melhor do que o cenário que temos hoje.
Este texto também está publicado no site da Alana. Acesse
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