No Brasil é costume se falar que tal lei pegou ou não pegou. Pois a moda agora são as leis secas. A das bebidas alcoólicas já está em vigor, e parece que pegou. Nada contra. Estar na direção requer muita responsabilidade. Porém, a mais nova das secas é a tal lei seca do cigarro, como já vem sendo chamada pelos meios de comunicação. Ainda não foi aprovada, é um projeto de lei do governador de São Paulo.
A proposta proíbe o cigarro em todos os estabelecimentos, inclusive bares, restaurantes e casas noturnas. O projeto também prevê o fim dos fumódromos em áreas públicas ou particulares, como em empresas. Se for aprovada na Assembléia Legislativa, o estabelecimento que descumprir a lei poderá pagar multa de até R$ 3,2 milhões. Já o fumante, se insistir em permanecer no local com o cigarro aceso, poderá ser retirado do estabelecimento com auxílio da força policial.
Nessa onda da restrição, sempre é o cidadão, que trabalha muito e paga impostos pacas, quem tem de se privar de seus gostos e vícios. Não quero discutir se o cigarro, no caso, faz mais ou menos mal que tantas outras coisas, tanto do ponto de vista físico como do psicológico. Mas o que mais me deixa indignado é que o indivíduo está ficando cada vez mais encurralado.
Aqui no Brasil, os deveres são bem maiores que os direitos (e que direitos, se é preciso pagar por tudo para se ter acesso?). Não acredito que a restrição seja uma boa solução para resolver também os problemas com cigarro. Até porque, pelo que propõe o projeto, os magnatas poderão continuar desfrutando de seus belos charutos cubanos nos Clubes de Charuto, que ficaram fora da proposta. E a comparação usada, para dizer que a restrição funciona, é com países como Canadá, Inglaterra e Austrália, como disse para um jornal uma conselheira da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas. A única diferença entre esses países e o nosso é que, lá fora, os cidadãos têm qualidade de vida de verdade: educação, saúde, moradia e condições de trabalho bem melhores do que a que temos por aqui.
Com tantos malabarismos que o cidadão brasileiro tem que fazer para continuar sobrevivendo, agora terá de se privar também de seu trago. Até a polícia poderá ser utilizada para a fiscalização! O que só pode ser uma boa piada. Serão os caça-fumaça? Ora, não quero fazer apologia ao fumo, até porque acredito que fumantes e não fumantes têm direitos iguais. Mas talvez, se o projeto desse uma alternativa para os estabelecimentos criarem áreas isoladas e com sistema de exaustão adequado, onde se pudesse fumar, ele fosse mais democrático.
Também acredito que os políticos no poder poderiam criar algumas outras leis secas, que seriam certamente benéficas à população. A lei seca da corrupção, da falta de ética, da alta carga tributária... Essas sim fariam bem não só para o pulmão, mas para todo corpo e mente do cidadão, pois poderiam proporcionar mais qualidade de vida para todas as pessoas, fumantes ou não.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
A moda das leis secas
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008
A era do acesso: compartilhando os objetos para um consumo mais consciente
Em tempos de hipermodernidade, como diz Gilles Lipovetsky em “Tempos Hipermodernos” (2004), compartilhar talvez seja uma dádiva. Os costumes da contemporaneidade acabam deixando os indivíduos cada vez mais egoístas, mais individuais, mais competitivos, porém não menos frágeis.
A sede de posse é grande. Quanto mais acúmulo de bens, mais bem visto é o homem, que trabalha, estuda, corre pra cá e pra lá “precisando” ganhar cada vez mais para suprir suas necessidades, sejam elas físicas e ou psicológicas. É a casa de campo, de praia, moto, lancha, carros ... É a comodidade, o lazer (com ou sem ócio, esse último ainda mais provável), o desfrutar das delícias desse mundo de carne e osso. Ótimo, quase perfeito, se desse tempo para usufruir de tudo isso. Bom, pelo menos a sensação de ter (do isso tudo é meu) ainda pode ser uma grande satisfação. Mas e o custo-benefício, se deixarmos de lado os aspectos psicológicos do ser? Com as aquisições, as contas vão aumentando e, com elas, o seu compromisso de trabalhar mais para poder quitá-las. (Adeus tão sonhado ócio). E o custo de todos esses bens parados, sem uso? Será inteligente do ponto de vista financeiro, ambiental e social?
Muito se diz do tal desapego que devemos ter dos bens materiais. Coisa difícil, né (pelo menos pra mim). A sociedade contemporânea até quem tem mostrado seu lado inteligente e de certa forma socializador, mesmo que seja pensando mais em economia financeira do que no compartilhar de fato. Em seu livro “A Era do Acesso” (2000), Jeremy Rifkin, fala de uma sociedade que não precisa ser dona de nada, mas que pode ter acesso a tudo. “O acesso just-in-time de bens e serviços é a tendência do futuro. Cada vez mais pagaremos para utilizar coisas em vez de sermos os proprietários”, afirma o autor. Nesta lógica, não deixaríamos de utilizar a casa de campo, a de praia... Digamos que poderíamos chamar isso de um socialismo capitalista, no qual muitos objetos podem ter mais de um dono, ao mesmo tempo em que ninguém é dono de nada. Paga-se pelo uso. Assim, divide-se bônus e ônus.
Já tem muita gente praticando o compartilhamento dos objetos. Nos países desenvolvidos já acontece em maior escala. No Brasil também existe e a tendência é crescer. São escritórios com estrutura enxuta em que diversas pessoas jurídicas utilizam a mesma sala de reunião, equipamentos, secretária etc. Na Califórnia - EUA - há carros compartilhados. O indivíduo paga uma taxa por mês. Os carros ficam disponibilizados em vários lugares. A pessoa pode pegar em um ponto e deixá-lo em outro local.
E a era do acesso também está nos céus. A novidade, pelo menos pra mim, foi a de ver no jornal Diário do Grande ABC, de 18 de agosto, matéria falando sobre helicópteros compartilhados. É claro que mesmo dividindo em grupo (cerca de 10 pessoas) custa muito para a maioria dos mortais, mas é a idéia em si que é boa e precisa ser ampliada e divulgada. Além de ter um preço altíssimo, os mais baratos por volta de R$ 1 milhão, ter uma máquina dessas parada, mesmo pra quem pode, significa prejuízo. Então, porque não compartilhar?
Segundo a reportagem, o Brasil tem 200 pessoas que utilizam esse sistema, que já existe há sete anos. Paga-se 10% do valor da aeronave como cota e R$ 11 mil mensais para manutenção do aparelho e custos de vôo, como combustível, piloto, entre outros. Espero que essa filosofia, a da era do acesso, continue a se multiplicar. É bom para os indivíduos, é bom para o planeta também, mas claro, ainda longe dos ideais de ambientalistas e socialistas. Mas no tempo em que vivemos, essas notícias são animadoras, pois mostram que há alternativas à forma atual de nos relacionarmos com os objetos, criando, pelo menos, uma cultura de consumo mais consciente.
A sede de posse é grande. Quanto mais acúmulo de bens, mais bem visto é o homem, que trabalha, estuda, corre pra cá e pra lá “precisando” ganhar cada vez mais para suprir suas necessidades, sejam elas físicas e ou psicológicas. É a casa de campo, de praia, moto, lancha, carros ... É a comodidade, o lazer (com ou sem ócio, esse último ainda mais provável), o desfrutar das delícias desse mundo de carne e osso. Ótimo, quase perfeito, se desse tempo para usufruir de tudo isso. Bom, pelo menos a sensação de ter (do isso tudo é meu) ainda pode ser uma grande satisfação. Mas e o custo-benefício, se deixarmos de lado os aspectos psicológicos do ser? Com as aquisições, as contas vão aumentando e, com elas, o seu compromisso de trabalhar mais para poder quitá-las. (Adeus tão sonhado ócio). E o custo de todos esses bens parados, sem uso? Será inteligente do ponto de vista financeiro, ambiental e social?
Muito se diz do tal desapego que devemos ter dos bens materiais. Coisa difícil, né (pelo menos pra mim). A sociedade contemporânea até quem tem mostrado seu lado inteligente e de certa forma socializador, mesmo que seja pensando mais em economia financeira do que no compartilhar de fato. Em seu livro “A Era do Acesso” (2000), Jeremy Rifkin, fala de uma sociedade que não precisa ser dona de nada, mas que pode ter acesso a tudo. “O acesso just-in-time de bens e serviços é a tendência do futuro. Cada vez mais pagaremos para utilizar coisas em vez de sermos os proprietários”, afirma o autor. Nesta lógica, não deixaríamos de utilizar a casa de campo, a de praia... Digamos que poderíamos chamar isso de um socialismo capitalista, no qual muitos objetos podem ter mais de um dono, ao mesmo tempo em que ninguém é dono de nada. Paga-se pelo uso. Assim, divide-se bônus e ônus.
Já tem muita gente praticando o compartilhamento dos objetos. Nos países desenvolvidos já acontece em maior escala. No Brasil também existe e a tendência é crescer. São escritórios com estrutura enxuta em que diversas pessoas jurídicas utilizam a mesma sala de reunião, equipamentos, secretária etc. Na Califórnia - EUA - há carros compartilhados. O indivíduo paga uma taxa por mês. Os carros ficam disponibilizados em vários lugares. A pessoa pode pegar em um ponto e deixá-lo em outro local.
E a era do acesso também está nos céus. A novidade, pelo menos pra mim, foi a de ver no jornal Diário do Grande ABC, de 18 de agosto, matéria falando sobre helicópteros compartilhados. É claro que mesmo dividindo em grupo (cerca de 10 pessoas) custa muito para a maioria dos mortais, mas é a idéia em si que é boa e precisa ser ampliada e divulgada. Além de ter um preço altíssimo, os mais baratos por volta de R$ 1 milhão, ter uma máquina dessas parada, mesmo pra quem pode, significa prejuízo. Então, porque não compartilhar?
Segundo a reportagem, o Brasil tem 200 pessoas que utilizam esse sistema, que já existe há sete anos. Paga-se 10% do valor da aeronave como cota e R$ 11 mil mensais para manutenção do aparelho e custos de vôo, como combustível, piloto, entre outros. Espero que essa filosofia, a da era do acesso, continue a se multiplicar. É bom para os indivíduos, é bom para o planeta também, mas claro, ainda longe dos ideais de ambientalistas e socialistas. Mas no tempo em que vivemos, essas notícias são animadoras, pois mostram que há alternativas à forma atual de nos relacionarmos com os objetos, criando, pelo menos, uma cultura de consumo mais consciente.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Multitarefas: a vida through the screen
Matéria da Veja de 6 de agosto trata das chamadas crianças multitarefas. Falar no celular, escutar música, bater papo no MSN, jogar videogame e ainda dar uma espiada na programação da TV são algumas das coisas que essa nova geração faz de uma só vez.
Bom ou ruim, não sei dizer. Mas uma coisa é certa: a tecnologia não é a grande causa desse comportamento. É fato que ela está inserida no universo do público infantil. Para as crianças da sociedade moderna, o mundo é through the screen. A vida dos multitarefa é intermediada por telas. Até livro já se lê em posição vertical, por causa do hábito de olhar para o monitor do computador.
Mas e daí? O que isso significa, além da adpatação aos meios, coisa que não é exclusividade dessa geração? A sociedade muda constantemente, e ainda bem que isso acontece. São avanços, retrocessos, mas que significam novas experiências. Os especialistas ouvidos por Veja disseram que será necessário uma ou duas gerações para saber se o impacto desse fenômeno é positivo ou não. Um deles, professor de conceituado colégio de São Paulo, já percebeu uma coisa: “As crianças processam rapidamente um número maior de informações, mas num nível superficial. Ir fundo no assunto é difícil pra elas”.
Hoje, o que vale mais é a quantidade. Vivemos no que a revista Wired chama de snack culture (cultura aos pedaços). Somos ansiosos pelo novo. Queremos um pouquinho de tudo, somos incentivados a isso. E é gostoso, mas não menos perigoso, tudo depende do ponto de vista. E viva o mundo da baixa resolução, de vídeos por celular e do second life! A quantidade de informação não pára de aumentar. Já a qualidade, é mais discutível... ou não.
Voltando à Revista, o que mais causou espanto na matéria foram os relatos das mães que participaram da reportagem. Elas ficaram assustadas com o comportamento dos filhos, de darem atenção para duas, três, quatro, até cinco coisas diferentes ao mesmo tempo. Isso mostrou que essas mães dão pouca atenção aos filhos, não têm muita convivência com eles, pois mal sabiam o que estavam fazendo em casa.
Esse talvez seja um problema, e, de certa forma, também não é culpa delas, pois estão inseridas na lógica do mercado. Para manter os costumes da vida moderna é preciso de dinheiro, o que, na maioria das vezes, significa mais trabalho. Assim, os pais terceirizaram a atenção - o convívio que deveriam ter com os filhos - para os aparatos tecnológicos, as novas babás eletrônicas da modernidade. Embora também, dependendo da relação familiar, talvez a criança saia ganhando em não ter os pais muito por perto. E quem gosta disso é o mercado publicitário, que enxerga a criança como presa fácil, "verdadeira trainee do consumo", nas palavras do professor Daniel Galindo.
Bom ou ruim, não sei dizer. Mas uma coisa é certa: a tecnologia não é a grande causa desse comportamento. É fato que ela está inserida no universo do público infantil. Para as crianças da sociedade moderna, o mundo é through the screen. A vida dos multitarefa é intermediada por telas. Até livro já se lê em posição vertical, por causa do hábito de olhar para o monitor do computador.
Mas e daí? O que isso significa, além da adpatação aos meios, coisa que não é exclusividade dessa geração? A sociedade muda constantemente, e ainda bem que isso acontece. São avanços, retrocessos, mas que significam novas experiências. Os especialistas ouvidos por Veja disseram que será necessário uma ou duas gerações para saber se o impacto desse fenômeno é positivo ou não. Um deles, professor de conceituado colégio de São Paulo, já percebeu uma coisa: “As crianças processam rapidamente um número maior de informações, mas num nível superficial. Ir fundo no assunto é difícil pra elas”.
Hoje, o que vale mais é a quantidade. Vivemos no que a revista Wired chama de snack culture (cultura aos pedaços). Somos ansiosos pelo novo. Queremos um pouquinho de tudo, somos incentivados a isso. E é gostoso, mas não menos perigoso, tudo depende do ponto de vista. E viva o mundo da baixa resolução, de vídeos por celular e do second life! A quantidade de informação não pára de aumentar. Já a qualidade, é mais discutível... ou não.
Voltando à Revista, o que mais causou espanto na matéria foram os relatos das mães que participaram da reportagem. Elas ficaram assustadas com o comportamento dos filhos, de darem atenção para duas, três, quatro, até cinco coisas diferentes ao mesmo tempo. Isso mostrou que essas mães dão pouca atenção aos filhos, não têm muita convivência com eles, pois mal sabiam o que estavam fazendo em casa.
Esse talvez seja um problema, e, de certa forma, também não é culpa delas, pois estão inseridas na lógica do mercado. Para manter os costumes da vida moderna é preciso de dinheiro, o que, na maioria das vezes, significa mais trabalho. Assim, os pais terceirizaram a atenção - o convívio que deveriam ter com os filhos - para os aparatos tecnológicos, as novas babás eletrônicas da modernidade. Embora também, dependendo da relação familiar, talvez a criança saia ganhando em não ter os pais muito por perto. E quem gosta disso é o mercado publicitário, que enxerga a criança como presa fácil, "verdadeira trainee do consumo", nas palavras do professor Daniel Galindo.
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