De fato, a tal gordura trans faz mal à saúde. Ela é a pior das gorduras. Foi por isso que o governo determinou, desde 2007, que a indústria de alimentos informasse ao consumidor a quantidade desse tipo de substância contida nos produtos. Com a exigência e a repercussão da medida, as empresas começaram a se movimentar para adaptar suas fórmulas, tentando substituir a todo custo a gordura trans. Mas o simples fato de estar livre dela não garante, em hipótese nenhuma, que o produto seja saudável. Aliás, muitos rótulos trazem a inscrição 0% de gordura trans, porém, pode ser que estejam se referindo apenas à quantidade de uma porção, que se for muito pequena, não precisa ser considerada na embalagem. Mas em duas ou três porções, o risco já pode aparecer!
O Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – faz um alerta aos consumidores: olhe os ingredientes, se entre eles encontrar qualquer menção a óleos parcialmente hidrogenados, gordura vegetal ou gordura hidrogenada – que são fontes das tais gorduras trans - é possível que, em algumas porções, o consumo dessas gorduras seja muito maior do que se imagina (Revista IDEC nº 116).
Além da gordura trans, há outros ingredientes que podem fazer muito mal à saúde. A gordura saturada, o sódio e o açúcar, por exemplo, são substâncias que, se consumidas em excesso, podem contribuir para o aparecimento ou agravamento de diversas doenças, tais como colesterol, diabetes e hipertensão. Apesar de não ser perceptível, muitos doces trazem uma quantidade grande de sal em sua composição. Mas e o açúcar? Por incrível que pareça, não há uma exigência legal para a divulgação da quantidade desse nutriente nos alimentos e bebidas. Ele permanece escondido entre os carboidratos, responsáveis por fornecer energia ao corpo.
As crianças e os ingredientes não-saudáveis
Um outro grande problema é que a rotulagem nutricional de alimentos e bebidas normalmente utiliza os valores diários de um adulto (2.000 kcal), como base de referência, pois a indústria também não é obrigada a dispor essas informações baseadas nas necessidades diárias de uma criança, que aliás, variam de acordo com a fase de desenvolvimento. Dessa forma, a criança pode estar ingerindo um alimento adequado para a dieta de um adulto, mas que muitas vezes extrapola suas necessidades diárias daquele nutriente, o que pode levar ao aparecimento de problemas como a obesidade infantil. “O excesso de peso na infância costuma programar o organismo para uma vida inteira de saúde frágil. Os médicos estão enfrentando o desafio de combater colesterol alto, hipertensão e doenças do fígado - problemas tipicamente adultos – em crianças cada vez mais novas” diz reportagem da revista Época, de março de 2009.
Assim, ainda que falte muita informação ao consumidor, para que possa fazer da sua escolha uma decisão coerente, ainda é mais prudente, no momento da compra, verificar os ingredientes e as informações da rotulagem nutricional, conforme orientação da ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária – “para alimentos e bebidas produzidos, comercializados e embalados na ausência do cliente e prontos para oferta ao consumidor”.
O 0% de gordura trans é um movimento bem-vindo.Mas, para saber se de fato estamos ingerindo alimentos saudáveis, de acordo com nossas necessidades diárias, é fundamental termos novas ações legais por parte da ANVISA e até mesmo uma mudança de cultura por parte do consumidor, que pode exigir das empresas e dos órgãos públicos informações claras que o ajudem a ter uma vida mais saudável.
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